sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

A Conjuração das palavras

1. O texto a seguir foi retirado de um livro do escritor Benito Pérez Galdós – A Conjuração das palavras – e retrata o momento em que as palavras, revoltadas, abandonam o dicionário:

“Uma manhã sentiu-se um grande barulho de gritos, patadas, choque de armas, roçar de vestidos, chamamentos e relinchos, como se um numeroso exército se levantasse e se vestisse apressadamente, preparando-se para uma grande batalha. E na verdade, assunto de guerra devia ser, porque em pouco tempo saíram todas ou quase todas as palavras do dicionário, com fortes e reluzentes armas, formando um batalhão tão grande que n]ao caberia na Biblioteca Nacional. Na frente marchavam uns peões chamados Artigos, vestidos com túnicas magníficas e malhas de aço finíssimo; não portavam armas, mas sim os escudos de seus senhores, os Substantivos, que vinham um pouco atrás. Estes, em número quase infinito, eram tão vistosos e elegantes que dava gosto vê-los. Também se viam uns poucos Pronomes, representando seus amos, que tinham ficado na cama por doença ou preguiça, e esses Pronomes formavam na fila dos Substantivos como se deles recebessem categoria. Não é necessário dizer que havia de ambos os sexos; e as damas cavalgavam com igual donaire que os homens, portando armas displicentemente. Atrás vinham os Adjetivos, todos a pé; e se mostravam como serviçais ou satélites dos Substantivos, porque formavam ao lado deles, atendendo a suas ordens. A pouca distância vinham os Verbos, que eram cavaleiros do tipo mais estranho e maravilhoso que possa conceber a fantasia. Não é possível dizer seu sexo, nem medir sua estatura, nem descrever suas feições, nem indicar sua idade, com precisão e exatidão. Basta saber que se mexiam muito para todos os lados, e tanto estavam na frente como atrás, e alguns se juntavam para andar emparelhados. Após eles, vinham os Advérbios, que tinham a aparência de ajudantes de cozinha, já que seu ofício era preparar a comida para os Verbos e servi-los de tudo. Dessas palavras, algumas eram nobilíssimas, e mostravam nos escudos delicados valores, por onde se deduziam seus antepassados latinos ou árabes; outras, sem informações antigas de que se pudessem vangloriar, eram jovenzinhas ou plebeias. Os nobres as tratavam com desprezo. Algumas havia também na qualidade de emigradas da França, esperando o momento de conseguir nacionalidade. Outras, ao contrário, indígenas, caíam de velhas e ficavam de lado, ainda que as outras guardassem certo respeito por suas rugas e as havia tão petulantes e presunçosas, que desprezam as demais, olhando-as com empáfia.”

quinta-feira, 10 de novembro de 2022

AM2 - 2E.M

 Aula invertida - AM2 - 2 E.M

Agora é com você.  

Prepare uma aula de leitura e interpretação de um artigo de opinião de acordo com as instruções abaixo.

  •  Leia atenciosamente o texto entregue pela professora.
  •  Crie uma questão de interpretação de texto e duas relacionadas às características do gênero e às estratégias argumentativos utilizadas.
  • Crie um powerpoint com o texto, as questões e as respostas.
  • Apresente para turma. Sua apresentação deve ter no máximo 17 min.

 

Importante: retome as informações a seguir.

  • Artigo de opinião




  • Estratégias argumentativas:

o   causa e consequência;

o   alusão histórica;

o   citação;

o   exemplificação;

o   contraposição;

o   comparação;

o   comprovação

o   contra-argumentação.                                      

Critério de avaliação

Estratégia argumentativa: identificação e análise.

 0,00 a 2,00

 

Questões coerentes e de acordo com a norma-padrão de Língua Portuguesa.

0,00 a 3,00

 

Linguagem: clareza, coerente e didática.

0,00 a 1,50

 

Apresentação em Power Point: organização entre texto e imagem. Além disso, cumprimento da norma padrão da língua portuguesa.

0,00 a 1,50

 

Conteúdo: conhecimento e domínio do assunto e fidelidade ao tema proposto

0,00 a 2,00

 

 

Texto I

A tecnologia precoce. Lamentável!

Em recente homilia, o papa Francisco clamava para que tivéssemos um uso consciente dos telefones celulares. Advertiu que devemos ter um cuidado especial na orientação das crianças no uso dos smartphones.

Lembrei de Zygmunt Bauman, filósofo, sociólogo e cientista, indo mais além, um visionário que traduzia em fáceis palavras nossa truncada e conflituosa “sociedade líquida”. Em um de seus artigos escreveu que o acesso ilimitado à internet representava, para muitos, uma “escravidão voluntária”.

A escravidão imposta, compulsória, talvez seja uma das situações mais lamentáveis, degradantes e tiranas que um ser possa sofrer, mas penso que a escravidão voluntária, opcional, espontânea, talvez seja igualmente lastimável, sobretudo porque há a opção de não se submeter a determinada situação. É evidente que o avanço tecnológico deve ser festejado, mas seu uso deve ser direcionado pelo bom senso e responsabilidade, é o que já defendi e argumentei em diversos artigos. A Organização Mundial de Saúde já considera o uso dos celulares como uma patologia global, atingindo milhões de pessoas, causando danos físicos, emocionais e sociais.

E, lamentavelmente, todos esses prejuízos estão começando cada dia mais cedo, pois as crianças e até bebês já estão dependentes da tecnologia. Vejo crianças hipnotizadas pelo celular, sem interação com os pais, e o pior, sem vigilância no que estão vendo na internet.

Muitos bebês só dormem se estiverem assistindo a alguma coisa no celular, já existem equipamentos que acoplam os telefones nos berços e carrinhos. Talvez o próximo lançamento seja um berço equipado com sinal de wi-fi e tablet integrado, para que os recém-nascidos já passem a fazer parte do exército de consumidores.

Pois assim é a dinâmica do consumo contemporâneo, mais que criar produtos e mercadorias, é preciso que se criem consumidores. Indo além, preferencialmente consumidores que não questionem o uso, os benefícios ou malefícios do que estão consumindo, apenas consumam, naveguem, curtam, compartilhem....

Sei que as crianças, de maneira inicial, consomem “mercadorias inocentes”, explico: desenhos animados, músicas lúdicas e inúmeros produtos direcionados para a faixa etária infantil. O problema é a precocidade e a intensidade desse acesso à tecnologia. Pois num primeiro momento é isto que veem, mas em pouco tempo já estarão acessando outros conteúdos e navegando por outros mares. E a responsabilidade de impor limites, educar e direcionar é dos pais.

O mundo virtual e tecnológico deve ser usufruído, mas com regras, limites e no tempo adequado. Mais do que de um celular, as crianças precisam dos pais. Certamente elas terão melhores sonhos se dormirem com um abraço e não com uma tela luminosa.

SIQUEIRA, João Paulo S. de. A tecnologia precoce. Lamentável! Disponível em: <www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/opiniao/2019/05/21/3476619/a-tecnologia-precoce-lamentavel.shtml>. Acesso em: 6 jun. 2019.


Texto II

O sonho olímpico à beira do abismo 

Bia Abramo 

Colunista da folha 

 

      As Olimpíadas ainda nem começaram, mas o Brasil já tem seu candidato a herói, ou melhor, candidata a heroína olímpica: Daiane dos Santos. A expectativa é enorme: nos programas esportivos que precedem os Jogos de Atenas, ela é tratada como a grande promessa de medalhas, de glória, de heroísmo. 

      Não é de todo descabido esse tratamento. Daiane é, de fato, uma atleta excepcional, vem obtendo resultados expressivos em competições internacionais, deu nome a um salto que só ela consegue fazer, etc. Mas o problema é transformar o desejo de que a ginasta se saia bem em comemoração por antecipação. A competição olímpica pode reservar surpresas e é já de se perguntar o que acontecerá com Daiane, se seu "sonho olímpico", para usar uma expressão presente em nove entre dez matérias de programas esportivos, não se realizar. 

     Para a TV, o esporte é a arena por excelência onde se criam e destroem heróis. Nas Olimpíadas, um raro momento em que a hegemonia absoluta do futebol como preferência nacional dá lugar a outras modalidades, outros nomes, outras imagens, essa possibilidade se multiplica, e daí essa espécie de corrida em determinar aqueles que devem ou não merecer nossa devoção. 

      É ambígua a relação dos brasileiros com seus heróis esportivos. Em primeiro lugar, temos a tendência a ser condescendentes no atacado e rigorosos no varejo. Perdoamos com mais facilidade um time que vai mal do que o esportista individual ou a estrela do time que falha. Lembremos de como Ronaldo, em 98, despencou para a posição de vilão em apenas uma partida e, em 2002, só ali depois do jogo contra a Inglaterra voltou plenamente a seu posto de herói do futebol. 

       Em segundo lugar, mesmo que os feitos atestem a potencialidade desse ou daquele atleta tornar-se um herói, temos um eterno pé atrás. Por alguma razão, por alguma espécie de premonição do desastre, desconfiamos de sua capacidade até o final, apostamos que eles não irão satisfazer plenamente nossa sede de triunfo. Talvez pela história errática de feitos esportivos, talvez por uma espécie de incapacidade de acreditarmos sem ressalvas no outro, o fato é que os nossos heróis do esporte nos parecem na iminência de um fracasso. Mas esporte na TV é, como se diz, emoção em estado obrigatório e essa desconfiança não combina com a espécie de histeria que toma a cobertura esportiva. A solução é bombardear o espectador com a certeza de que as previsões têm que dar certo. 

       Uma observação se impõe: esta coluna torce para que Daiane se transforme em nossa heroína por força de suas proezas, não pela insistência da TV. Desde Nadia Comaneci, que apresentou a ginástica agora chamada de artística para a minha geração, a visão dessas meninas que voam está entre as mais impressionantes e belas imagens que um esporte pode proporcionar. 

 

Folha de São Paulo, 20 de junho de 2004. 


Texto III

Deveríamos viver a vida ou capturá-la?

Um artigo recente no New York Times explora a onda explosiva de gravações de eventos feitas em smartphones, dos mais significativos aos mais triviais.

Todos são, ou querem ser, a estrela de sua própria vida, e a moda é capturar qualquer momento considerado significativo. Microestrelas do YouTube têm vídeos de selfies que se tornam virais em questão de horas, como o mais recente do jornalista Scott Welsh, gravado durante um voo da companhia aérea Jetblue Airways, em que as máscaras de oxigênio baixaram devido a um defeito mecânico. Se você se depara com a morte, por que não compartilhar seus momentos derradeiros com aqueles que você deixou?

Há um aspecto disso tudo que faz sentido; todos somos importantes, nossas vidas são importantes, e queremos que elas sejam vistas, compartilhadas, apreciadas. Mas há outro aspecto que leva a um desligamento com o momento.

Estarão as pessoas esquecendo de estar presentes no momento, espalhando seu foco ao ver a vida através de uma tela? Você deveria estar vivendo a sua vida ou vivendo-a para que os outros a vejam?

Deve-se dizer, entretanto, que isso tudo começou antes da revolução dos celulares. Algo ocorreu entre o diário privado que mantínhamos chaveado em uma gaveta e a câmera de vídeo portátil. Por exemplo, em junho de 2001, levei um grupo de alunos da universidade de Dartmouth em uma viagem para ver o eclipse total do Sol na África. A bordo havia um grupo de “tietes de eclipse”, pessoas que viajam o mundo atrás de eclipses. Quando você vir um, vai entender o porquê. Um eclipse solar total é uma experiência altamente emocionante que desperta uma conexão primitiva com a natureza, nos unindo a algo maior e realmente incrível a respeito do mundo. É algo que necessita um comprometimento total e foco de todos os sentidos. Ainda assim, ao se aproximar o momento de totalidade, o convés do navio era um mar de câmeras e tripés, enquanto dezenas de pessoas se preparavam para fotografar e filmar o evento de quatro minutos.

Em vez de se envolverem totalmente com esse espetacular fenômeno da natureza, as pessoas preferiram olhar para isso através de suas câmeras. Eu fiquei chocado. Havia fotógrafos profissionais a bordo e eles iam vender/dar as fotos que tirassem. Mas as pessoas queriam as suas fotos e vídeos de qualquer forma, mesmo se não fossem tão bons. Eu fui a outros dois eclipses, e é sempre a mesma coisa. Sem um envolvimento pessoal total. O dispositivo é o olho através do qual eles escolheram ver a realidade.

O que os celulares e as redes sociais fizeram foi tornar o arquivamento e o compartilhamento de imagens incrivelmente fáceis e eficientes. O alcance é muito mais amplo, e a gratificação (quantos “curtir” a foto ou o vídeo recebe) é quantitativa. As vidas se tornaram um evento social compartilhado.

[...]

É por isso que eu tendo a usar essas tecnologias minimamente, para mostrar imagens e gráficos ou citações significativas.

GLEISER, Marcelo. Deveríamos viver a vida ou capturá-la? Fronteiras do Pensamento, 7 out. 2014.Disponível em: <www.fronteiras.com/artigos/marcelo-gleiser-deveriamos-viver-a-vida-ou-captura-la->. Acesso em: 3 set. 2019


Texto IV

Viver em sociedade                                                        

A sociedade humana é um conjunto de pessoas ligadas pela necessidade de se ajudarem umas às outras, a fim de que possam garantir a continuidade da vida e satisfazer seus interesses e desejos. 

Sem vida em sociedade, as pessoas não conseguiriam sobreviver, pois o ser humano sempre necessitou de outros para conseguir alimentação e abrigo. E no mundo moderno, com a grande maioria das pessoas morando na cidade, com hábitos que tornam necessários muitos bens produzidos pela indústria, não há quem não necessite dos outros muitas vezes por dia. 

Mas as necessidades dos seres humanos não são apenas de ordem material, como os alimentos, a roupa, a moradia, os meios de transportes e os cuidados de saúde. Elas são também de ordem espiritual e psicológica. Toda pessoa humana necessita de afeto, precisa amar e sentir-se amada, quer sempre que alguém lhe dê atenção e que todos a respeitem. Além disso, todo ser humano tem suas crenças, tem sua fé em alguma coisa, que é a base de suas esperanças. 

Os seres humanos não vivem juntos, não vivem em sociedade, apenas porque escolhem esse modo de vida, mas porque a vida em sociedade é uma necessidade da natureza humana. Assim, por exemplo, se dependesse apenas da vontade, seria possível uma pessoa muito rica isolar-se em algum lugar, onde tivesse armazenado grande quantidade de alimentos. Mas essa pessoa estaria, em pouco tempo sentindo falta de companhia, sofrendo a tristeza da solidão, precisando de alguém com quem falar e trocar ideias, necessitada de dar e receber afeto. E muito provavelmente ficaria louca se continuasse sozinha por muito tempo. 

Mas, justamente porque vivendo em sociedade é que a pessoa humana pode satisfazer suas necessidades, é preciso que a sociedade seja organizada de tal modo que sirva, realmente, para esse fim. E não basta que a vida social permita apenas a satisfação de algumas necessidades da pessoa humana ou de todas as necessidades de algumas pessoas. A sociedade organizada com justiça é aquela em que procura fazer com que todas as pessoas possam satisfazer todas as necessidades, é aquela em que todos, desde o momento em que nascem, têm as mesmas oportunidades, aquela em que os benefícios e encargos são repartidos igualmente entre todos. 

Para que essa repartição se faça com justiça, é preciso que todos procurem conhecer seus direitos e exijam que eles sejam respeitados, como também devem conhecer e cumprir seus deveres e suas responsabilidades sociais. 

 

 DALLARI, Dalmo de Abreu.Viver em sociedade. São Paulo: Moderna,1985. 


Texto V

A violência que vai à escola todo dia

Onde estão os responsáveis por alunos tão jovens, antes, durante e depois de eles passarem por traumas? O que fizeram para prevenir ou resolver o problema?

Quem vai a campo conhecer a realidade das escolas brasileiras ouve relatos tão assustadores quanto revoltantes. Crianças e adolescentes revelam experiências de assédio moral e sexual, agressão verbal e física, dramas psicológicos variados. Mas a frequência e a reincidência dessas práticas causam mais que assombro e indignação. Despertam uma pergunta básica: por quê?

Onde estão os responsáveis por alunos tão jovens, antes, durante e depois de eles passarem por vivências traumatizantes? O que fizeram para prevenir, enfrentar ou solucionar o problema? Elegem corretamente suas prioridades em termos de educação? Enxergam e conhecem, de fato, os alunos que passam no mínimo quatro horas por dia na escola? Enxergam e conhecem, realmente, quem está perto deles enquanto estudam, brincam, lancham, conversam?

É inegável a relevância de fatores como número de matrícula, taxa de permanência na escola, desempenho escolar, indicadores de qualidade. No entanto, esses dados estão diretamente relacionados com o ambiente físico e, sobretudo, psicológico em que meninas e meninos adquirem conhecimentos que farão diferença pelo resto de suas vidas.

Quando um vigia provoca um incêndio que leva à morte crianças e a si próprio dentro de uma escola, o episódio gera comoção nacional. Mas corre o risco de cair no esquecimento. Quem ainda ouve falar da morte de mais de uma dezena de crianças numa escola de Realengo, em 7 de abril de 2011? Um atirador disparou à queima-roupa contra professoras e estudantes, suicidando-se em seguida.

Esses são casos extremos que ganham as manchetes. Há, porém, os crimes silenciosos, que raramente têm visibilidade e, portanto, se perpetuam sem que se tente impedi-los.

Ninguém suspeita de nada? Ninguém lê nas escolas os sinais que normalmente antecedem e caracterizam as diferentes formas de violência de que são alvos tantos estudantes? Ademais, como se sabe, a educação de meninas, meninos, adolescentes e jovens extrapola o âmbito familiar e envolve uma rede que vai dos gabinetes do poder público às salas de aula, passando por pátios, cantinas, quadras esportivas, entorno escolar. Todos têm sua parcela de responsabilidade pela saúde física e mental dos milhões de estudantes que hoje frequentam as mais de 200 mil escolas de educação básica do Brasil.

Cabe lembrar que os diversos tipos de violência não se restringem às instituições públicas de ensino. Incluem as particulares. Naturalmente, a falta de recursos das famílias de baixa renda agrava o quadro, pois elas geralmente não têm como apelar para trocas de sala, de escola ou de professores ou mesmo, em casos extremos, para contratar psicólogos, advogados ou quaisquer profissionais necessários para garantir o bem-estar da criança em situação de agravo.

Tudo isso se torna ainda mais preocupante quando se observa uma espécie de complexo de avestruz, pelo qual não enxergar a gravidade da situação ou negá-la é a única resposta a um drama que afeta estudantes, professor e o próprio sistema escolar.

Chama a atenção que um país como o Brasil, com uma das taxas mais altas de violência do mundo, despreze a necessidade de se pesquisar por que esses níveis inaceitáveis de outras formas de violência atingem as escolas. É de pequenos cidadãos que estamos tratando. Merecem políticas públicas que tornem visível o problema para enfrentá-lo imediatamente.

WERTHEIN, Jorge. A violência que vai à escola todo dia. O Globo, 22 out. 2017. Disponível em:

<https://oglobo.globo.com/opiniao/a-violencia-que-vai-escola-todo-dia-21974928>. Acesso em: 16 jul. 2019.

Texto VI

Poder da mídia

As informações dos meios de comunicação, da mídia impressa e eletrônica, quase sempre contam com a confiança da maioria da opinião pública. Ela tende a fazer uma leitura linear da informação, sem questionamento, crédula, e assim aceita como verdade a versão do fato, seja diante de um dado novo sobre um episódio conhecido, seja porque surgiu outro sobre o qual nada sabia. Essa realidade reflete a necessidade de mudanças, de sorte que os profissionais, as empresas, atuem dentro dos limites do poder que detêm e dos riscos e consequências do seu exercício. A questão não é só da nossa mídia, mas da área de comunicação em quase todos os países.

A Era da Informação, que gerou tantas esperanças, não pode ser vista como formada por empresas e
profissionais infalíveis, juízes de todo mundo. A mídia também deve ter limites, normas, pois do contrário a sociedade, o público, fica sem condições de influir no processo democrático, de enfrentar o poder dos meios de comunicação. Há necessidade, portanto, de ampliar o debate, de garantir espaços para pessoas, instituições, tendências, ideias. A existência do debate, do confronto de ideias, ajudará no exercício da liberdade de imprensa, na sua contribuição para o regime democrático, que não pode ter a mídia como dona da verdade e única força moral, transformadora.

Tal tendência é perigosa para o conjunto de uma nação, de um Estado, na medida em que a mídia atua como porta-voz da sociedade, que em sua maioria é receptora da informação, de debates com pessoas com os mesmos pontos de vista, ou seja, uma inegável censura à difusão das ideias. Além disso, temos de refletir sobre a concentração de poder na área da comunicação, hoje sob controle de sete grandes grupos com base nos Estados Unidos, Alemanha, Austrália, México e Brasil. Tais grupos influem nos governos, detêm o controle de grandes corporações, que dispõem de meios e modelos para influir nas ideias e nos destinos de pessoas e nações.

Evidente que o mundo da comunicação, por seu gigantismo, vem sendo cada dia mais competitivo,
sendo comum a difusão de informação que carece de confirmação, que viceja no terreno da invenção,
da suposição, em que sempre tarda a autocrítica, que fica restrita ao universo das redações ou ao bar da esquina. Diante disso, nos Estados Unidos, na Europa, crescem setores organizados que buscam influir nos rumos da informação, criando espaços para questionamentos, reparos, de forma objetiva e imediata. Entre os críticos da mídia, dos seus defeitos, Noam Chomsky assegura que seu produto “é moldado paraatender as necessidades de poder e dominação nos quais ela se embute, gerando o risco de transformar o público em átomos isolados de consumo, passivos e obedientes”.

Não resta dúvida, portanto, que estamos diante de um desafio e com o dever de agir para alterar os rumos da tendência da mídia. A liberdade de imprensa tem de ser defendida, assegurada, sem censura, restrições. A tarefa de todos nós deve ser garantir a liberdade de expressão, a exigência de ética, de formação profissional e normas claras de forma que o exercício do jornalismo seja um instrumento da cidadania e ajude a consolidar a democracia como forma educativa de Governo.
JORGE NETO, Nagib. Poder da mídia. Diário de Pernambuco, 25 set. 2018. Disponível em: <www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/opiniao/2018/09/25/3441366/poder-da-midia.shtml>. Acesso em: 12 set. 2019.

sábado, 15 de outubro de 2022

Trabalho sociolinguístico

 Nas aulas de redação, vimos um pouco sobre a regência verbal e como ela funciona. Com base nesse conhecimento, façam um estudo sociolinguístico da regência dos verbos especificados pela professora com alguns estudantes da escola Vereda. Vocês devem:

1. Estudar sobre a regência verbal e o significado dos verbos em análise.

2. Criar uma situação comunicativa para que os entrevistados utilizem os verbos em questão sem perceberem que o objetivo é analisar a regência verbal de acordo com a norma padrão da língua portuguesa.

3. Criar hipóteses relacionadas à regência desses verbos.

4. Escolher três alunos de 11 a 16 anos, obrigatoriamente de diferentes anos de ensino, para serem entrevistados e seu discurso analisado. Essa entrevista deve ser gravada.

5. Transcrever apenas da fala em que os alunos utilizem os verbos em questão.

 

Depois escrevam um artigo de acordo com as orientações a seguir:

·         Introdução (apresentação do trabalha): objetivo, justificativa e como será feito esta pesquisa.

·         Desenvolvimento (exposição da pesquisa com profundidade): fundamentação teórica e resultados (transcrição das falas e análise)

·       Conclusão: deduções lógicas que correspondam aos objetivos da pesquisa.

·        O trabalho deve seguir as normas de ABNT.

 Orientação das normas ABNT  no ppt. 

Modelo de capa, folha de rosto e sumário. 










domingo, 9 de outubro de 2022

Exemplos de argumentos.

Estratégias argumentativas

  •  Argumento de autoridade:

    Tese: o uso tecnológico provoca uma dualidade na formação da criança: a (des)aprendizagem.
    Em uma segunda análise, é possível elucidar que os aparatos tecnológicos podem coibir, de certa forma, o crescimento da criança. Esses recursos, dotados de coercitividade sobre os indivíduos, impõem-lhes usos frequentes e excessivos. Segundo a terapeuta canadense Cris Rowan, a superexposição da criança a celulares, internet e televisão está relacionada a déficit de atenção, atrasos cognitivos, dificuldades de aprendizagem, impulsividade e problemas em lidar com sentimentos como a raiva. Percebe-se, portanto, que a tecnologia também pode ser um aparato de desaprendizagem.

    • Argumento de exemplificação:

    Tema “Manifestações populares em evidência no século XXI”:
    Além disso, nota-se, ainda, como fatores socioeconômicos também são responsáveis pelos casos. A Revolução Francesa é considerada o símbolo de “liberdade, igualdade e fraternidade’, visto que mobilizou as camadas sociais infladas da crise econômica no respectivo país. Assim, é evidente que a política externa e interna influencia  na quantidade de manifestações ocorrentes. Como exemplo, no ano de 2013 milhares de manifestantes ocuparam as ruas da capital de São Paulo em reivindicação por melhorias e abaixamento dos preços dos transportes públicos.

    • Argumento de causa e consequência:

    Tese: o desenvolvimento da ciência no Brasil é pouco significativo. 
    É preciso elucidar que o Estado brasileiro não investe no âmbito tecno-científico de forma suficiente. Isso se deve ao fato de o Brasil passar por uma crise econômica em que o corte de gastos nas áreas de pesquisa e desenvolvimento, responsáveis por grande movimentação econômica, foi inevitável. Sob essa perspectiva, teremos um país com um atraso econômico e social digno de uma “república de bananas” – exatamente o contrário de países com economia moderna baseada em ciência e tecnologia, como Alemanha e Estados Unidos.

    • Argumento de contra-argumentação:

    Muitas pessoas afirmam que a ciência atende, principalmente, a interesses comerciais e que os cientistas não estão verdadeiramente preocupados com a evolução da humanidade. É possível perceber, no entanto, que essa premissa é generalista e desconsidera o trabalho sério feito por cientistas em diversas universidades visando o desenvolvimento de novas técnicas no campo da saúde, por exemplo. Em muitos países, há pouco investimento em pesquisa, mas, mesmo assim, existem muitas pessoas que dedicam seu tempo e dispõem seu conhecimento para contribuir com a evolução do conhecimento científico.

    • Argumento de comparação/ analogia:

     Tema: Efeitos do Bullying na sociedade.

    Semelhantemente, o meio virtual também é um cenário propenso à prática de Bullying. Por não existir fiscalização, tais atos passíveis de punição são esquecidos e levados apenas como brincadeiras. Essa realidade é preocupante pois o cyberbullying, ou violência virtual, alcança proporções mundiais e de grande impacto na saúde da vítima. 

    • Argumento de alusão histórica: 

    Tese: o culto ao corpo perfeito é uma postura enraizada na sociedade brasileira. 
    Os padrões europeus relativos à beleza e ao corpo perfeito estão intrinsecamente presentes no imaginário coletivo dos brasileiros. Isso pode se justificar, a princípio, pela herança histórica das potências estrangeiras no processo de colonização do Brasil. Esses ideais corpóreos, discrepantes do biotipo brasileiro, foram retratados e exaltados em pinturas e esculturas na época colonial. Dessa forma, o passado histórico influencia hoje a obsessão pela busca do corpo ideal.

    • Argumento de contraposição: 

    Tema: Desafios para a educação da população indígena no Brasil:

    Desde o Iluminismo, entende-se que uma sociedade só progride quando se mobiliza com o problema do outro. No entanto, quando se observa os desafios para a educação da população indígena no Brasil, hodiernamente, verifica-se que esse ideal iluminista é constatado na teoria e não desejavelmente na prática e a problemática persiste intrinsecamente ligado à realidade do país, seja pela ausência de práticas pedagógicas voltada aos indígenas, seja pelo deficitário auxílio financeiro para a permanência e acesso ao ensino superior.

    • Argumento de comprovação:

    Tese: o desflorestamento na Amazônia virou uma prática recorrente no território brasileiro. 
    É perceptível que, no sistema capitalista, muitas vezes, a política está atrelada ao lucro corporativo. Por esse prisma, a grande representatividade de latifundiários e ruralistas no cenário político brasileiro implica maior defesa de seus interesses – comumente avessos à preservação ambiental. A bancada ruralista é uma das maiores e mais atuantes da Câmara dos Deputados, formada por mais de 200 políticos do total de 513. Dessa maneira, há a criação de uma atmosfera mais permissiva às práticas de desmatamento na Amazônia.

    https://querobolsa.com.br/revista/conheca-6-estrategias-argumentativas-para-usar-na-sua-redacao


    sábado, 8 de outubro de 2022

    Modelo de texto dissertativo

     

    Proposta: Os limites do uso da tecnologia para a formação das crianças

    DUALIDADE TECNOLÓGICA

    Desde o final da década de 1980, com a consolidação da Revolução Técnico-Informacional, a tecnologia tornou-se inerente à vida dos indivíduos. Ao pensarmos no público mais jovem de hoje em dia, percebemos que essa aproximação é potencializada. Partindo desse contexto, o uso tecnológico provoca uma dualidade na formação da criança: a (des)aprendizagem.

    É preciso reiterar, em uma primeira perspectiva, que o uso de tecnologia por crianças pode ser proveitoso. Essa ferramenta possui potencial pedagógico, visto que pode permitir o acesso a conteúdos informacionais por meio de vieses lúdicos. Um projeto realizado pelo núcleo de ensino da Universidade Estadual Paulista (Unesp) mostrou que o uso da tecnologia na educação melhora em 32% o rendimento dos alunos em Matemática e Física, em comparação aos conteúdos trabalhados de forma expositiva em sala de aula. Sendo assim, o dinamismo da tecnologia fomenta a aprendizagem infantil.

    Em uma segunda análise, é possível elucidar que os aparatos tecnológicos podem coibir, de certa forma, o crescimento da criança. Esses recursos, dotados de coercitividade sobre os indivíduos, impõem-lhes usos frequentes e excessivos. Segundo a terapeuta canadense Cris Rowan, a superexposição da criança a celulares, internet e televisão está relacionada a déficit de atenção, atrasos cognitivos, dificuldades de aprendizagem, impulsividade e problemas em lidar com sentimentos como a raiva. Percebe-se, portanto, que a tecnologia também pode ser um aparato de desaprendizagem.

    Logo, torna-se evidente o caráter dual dos aparatos tecnológicos como ferramentas de auxílio na formação infantil. É imperativo que o Estado promova maior conscientização nas escolas sobre o uso sensato e sem exageros da tecnologia. Aliado a isso, cabe aos responsáveis a fiscalização de conteúdo e do tempo das crianças no ambiente virtual. Quem sabe assim será possível valorizar o aspecto agregador dessa ferramenta, descartando a atual essência de dualidade.














     




    segunda-feira, 3 de outubro de 2022

    Oração subordinada adjetiva - análise do texto

     

    O amigo pessoal e o seu contrário, o amigo coletivo

    Gregorio Duvivier

    Categoria difere do colega ou do conhecido, que curiosamente é como chamamos quem não conhecemos muito bem.

    Você já deve ter ouvido a expressão, em geral na negativa. "Conheço o fulano, mas não é meu amigo pessoal." Gosto dessa categoria tão brasileira. Não consigo imaginar a expressão em outras línguas. A busca por "personal friend" no Google revela um serviço de aluguel de amigos. Curiosamente "amigo pessoal" em inglês é amigo profissional.

    No Brasil, a categoria confunde porque pressupõe que existam outros tipos de amigo. Parece que dá para contrair amizade sem passar pela pessoa física. "O fulano é meu amigo espiritual. Beltrano? Meu amigo jurídico."

    O conceito, no entanto, faz sentido. Nem todo amigo tem uma relação individual com você. Alguns amigos da vida toda nunca ficaram no mano a mano. Todo o mundo tem amigos pessoais e tem amigos coletivos. O fenômeno acontece quando relação não é direta, intransferível, mas mediada por uma turma.

    Atenção: o amigo coletivo difere do colega ou do "conhecido", que curiosamente é como chamamos aquele que não conhecemos muito bem. Difere mais ainda do semiconhecido, aquele que conhecemos menos ainda. Existe uma hierarquia: o semiconhecido está abaixo do conhecido, que vem logo abaixo do colega, que vem antes do amigo coletivo, que precede o amigo pessoal.

    Do conhecido você sabe o nome, do amigo coletivo você sabe o signo, do amigo pessoal você conhece o funcionamento do intestino. Você sabe o bairro onde o conhecido mora, do amigo coletivo você sabe a rua —do amigo pessoal você sabe o prédio, o apartamento e a senha do wifi— quando não sabe, adivinha.

    Puristas da amizade dirão que amigos não pessoais não podem ser chamados de amigos. Discordo. O amigo grupal tem, sim, seu valor. Diverte, preenche, entretém. E o mais importante: é dele que pode nascer, um belo dia, quando menos se espera, o amigo pessoal.

    Basta chover um pouco mais. E vocês ficarem ilhados no escritório. Ou basta um porre, uma viagem, um acidente, um pneu furado. O que separa um amigo coletivo de um amigo pessoal, muitas vezes, é um perrengue. Mas pode ser uma carona —de preferência daquelas demoradas, na hora do rush. Se cair um temporal, melhor ainda. Entre um silêncio e outro, você vai abrir uma chaga, e ele vai compartilhar uma memória, você vai rebater com uma esperança, ele vai contar um segredo. Pronto. Ali, na avenida Brasil alagada, sob o abrigo de um palio weekend, o amigo pessoal acaba de nascer.

    Dissertação - análise de textos

    Texto 1 

    A submissão da mulher em uma sociedade patriarcalista como a brasileira é um fato que tem origens históricas. Por todo o mundo, a figura feminina teve seus direitos cerceados e a liberdade limitada devido ao fato de ser considerada “frágil” ou “sensível”, ainda que isso não pudesse ser provado cientificamente. Tal pensamento deu margem a uma ampla subjugação da mulher e abriu portas a atos de violência a ela direcionados.

    Nessa perspectiva, a sociedade brasileira ainda é pautada por uma visão machista. A liberdade feminina chega a ser tão limitada ao ponto que as mulheres que se vestem de acordo com as próprias vontades, expondo partes do corpo consideradas irreverentes, correm o risco de seres violentadas sob a justificativa de que “estavam pedindo por isso”. Esse pensamento perdura no meio social, ainda que muitas conquistas de movimento feministas – pautados no existencialismo da filósofa Simone de Beauvoir – tenham contribuído para diminuir a percepção arcaica da mulher como objeto.

    Diante disso, as famílias brasileiras com acesso restrito à informação globalizada ou desavisadas a respeito dos direitos humanos continuam a pôr em prática atos atrozes em direção àquela que deveria ser o centro de gravitação do lar. A violência doméstica, em especial física e psicológica, é praticada por homens com necessidade de autoafirmação ou sob influência de drogas (com destaque para o álcool) e faz milhares de vítimas diariamente no país. Nesse sentido, a criação de leis como a do feminicídio e Maria da Penha foram essenciais para apaziguar os conflitos e dar suporte a esse grupo antes marginalizado.

    Paralelo a isso, o exemplo dado pelo pai ao violentar a companheira tem como consequência a solidificação desse comportamento psicológico dos filhos. As crianças, dotadas de pouca capacidade de discernimento, sofrem ao ver a mãe sendo violentada e têm grandes chances de se tornarem adultos violentos, contribuindo para a manutenção das práticas abusivas nas gerações em desenvolvimento e dificultando a extinção desse comportamento na sociedade.

    Desde os primórdios, nas primeiras sociedades formadas na Antiguidade até hoje, a mulher luta por liberdade, representatividade e respeito. O Estado pode contribuir nessa conquista ao investir em ONGs voltadas à defesa dos direitos femininos e ao mobilizar campanhas e palestras públicas em escolas, comunidades e na mídia, objetivando a exposição da problemática e o debate acerca do respeito aos direitos femininos. É importante também a criação de um projeto visando a distribuição de histórias em quadrinhos e livros nas escolas, conscientizando as crianças e jovens sobre a “igualdade de gênero” de forma interativa e divertida.


    Texto 2

    A violência contra a mulher no Brasil tem apresentado aumentos significativos nas últimas décadas. De acordo com o Mapa da Violência de 2012, o número de mortes por essa causa aumentou em 230% no período de 1980 a 2010. Além da física, o balanço de 2014 relatou cerca de 48% de outros tipos de violência contra a mulher, dentre esses a psicológica. Nesse âmbito, pode-se analisar que essa problemática persiste por ter raízes históricas e ideológicas.


    O Brasil ainda não conseguiu se desprender das amarras da sociedade patriarcal. Isso se dá porque, ainda no século XXI, existe uma espécie de determinismo biológico em relação às mulheres. Contrariando a célebre frase de Simone de Beavouir “Não se nasce mulher, torna-se mulher”, a cultura brasileira, em grande parte, prega que o sexo feminino tem a função social de se submeter ao masculino, independentemente de seu convívio social, capaz de construir um ser como mulher livre. Dessa forma, os comportamentos violentos contra as mulheres são naturalizados, pois estavam dentro da construção social advinda da ditadura do patriarcado. Consequentemente, a punição para este tipo de agressão é dificultada pelos traços culturais existentes, e, assim, a liberdade para o ato é aumentada.


    Além disso, já o estigma do machismo na sociedade brasileira. Isso ocorre porque a ideologia da superioridade do gênero masculino em detrimento do feminino reflete no cotidiano dos brasileiros. Nesse viés, as mulheres são objetificadas e vistas apenas como fonte de prazer para o homem, e são ensinadas desde cedo a se submeterem aos mesmos e a serem recatadas. Dessa maneira, constrói-se uma cultura do medo, na qual o sexo feminino tem medo de se expressar por estar sob a constante ameaça de sofrer violência física ou psicológica de seu progenitor ou companheiro. Por conseguinte, o número de casos de violência contra a mulher reportados às autoridades é baixíssimo, inclusive os de reincidência.


    Pode-se perceber, portanto, que as raízes históricas e ideológicas brasileiras dificultam a erradicação da violência contra a mulher no país. Para que essa erradicação seja possível, é necessário que as mídias deixem de utilizar sua capacidade de propagação de informação para promover a objetificação da mulher e passe a usá-la para difundir campanhas governamentais para a denúncia de agressão contra o sexo feminino. Ademais, é preciso que o Poder Legislativo crie um projeto de lei para aumentar a punição de agressores, para que seja possível diminuir a reincidência. Quem sabe, assim, o fim da violência contra a mulher deixe de ser uma utopia para o Brasil.


    Texto 3 

    Violação à dignidade feminina


    Historicamente, o papel feminino nas sociedades ocidentais foi subjugado aos interesses masculinos e tal paradigma só começou a ser contestado em meados do século XX, tendo a francesa Simone de Beauvoir como expoente. Conquanto tenham sido obtidos avanços no que se refere aos direitos civis, a violência contra a mulher é uma problemática persistente no Brasil, uma vez que ela se dá- na maioria das vezes- no ambiente doméstico. Essa situação dificulta as denúncias contra os agressores, pois muitas mulheres temem expor questões que acreditam ser de ordem particular.


    Com efeito, ao longo das últimas décadas, a participação feminina ganhou destaque nas representações políticas e no mercado de trabalho. As relações na vida privada, contudo, ainda obedecem a uma lógica sexista em algumas famílias. Nesse contexto, a agressão parte de um pai, irmão, marido ou filho; condição de parentesco essa que desencoraja a vítima a prestar queixas, visto que há um vínculo institucional e afetivo que ela teme romper.


    Outrossim, é válido salientar que a violência de gênero está presente em todas as camadas sociais, camuflada em pequenos hábitos cotidianos. Ela se revela não apenas na brutalidade dos assassinatos, mas também nos atos de misoginia e ridicularização da figura feminina em ditos populares, piadas ou músicas. Essa é a opressão simbólica da qual trata o sociólogo Pierre Bordieu: a violação aos Direitos Humanos não consiste somente no embate físico, o desrespeito está –sobretudo- na perpetuação de preconceitos que atentam contra a dignidade da pessoa humana ou de um grupo social. 


    Destarte, é fato que o Brasil encontra-se alguns passos à frente de outros países o combate à violência contra a mulher, por ter promulgado a Lei Maria da Penha. Entretanto, é necessário que o Governo reforce o atendimento às vítimas, criando mais delegacias especializadas, em turnos de 24 horas, para o registro de queixas. Por outro lado, uma iniciativa plausível a ser tomada pelo Congresso Nacional é a tipificação do feminicídio como crime de ódio e hediondo, no intuito de endurecer as penas para os condenados e assim coibir mais violações. É fundamental que o Poder Público e a sociedade – por meio de denúncias – combatam praticas machistas e a execrável prática do feminicídio.


    1. Analise um dos textos dissertativo-argumentativos apresentados anteriormente de acordo com as seguintes orientações:

    a. Copie:

     Da introdução: a contextualização e tese. 

     Do desenvolvimento: tópico frasal e argumentos.

     Da conclusão:retomada da tese e proposta de intervenção. 


    b. Identifique e escreva os conectivos utilizados para ligar os parágrafos. 


    c. Explique como a contextualização é formada e as estratégias argumentativas utilizadas no desenvolvimento.


    d. Há alguma estratégia diferencial presente no texto? Se sim, qual?

    A Conjuração das palavras

    1. O texto a seguir foi retirado de um livro do escritor Benito Pérez Galdós – A Conjuração das palavras – e retrata o momento em que as pal...